02 julho 2013

A Química que atrai


As relações biológicas não são sempre cheias de agentes conflituosos pautados em uma constante corrida para a produção de substâncias antipredação, repelência ou imunização. Na realidade, a grande diversificação das plantas com flores (Angiospermas) só foi possível graças à interação com os animais, em especial, com os insetos. Como não se deslocam, não podem buscar parceiros para se acasalar. Em geral, as plantas utilizam alguns produtos naturais que permitem a atração de animais que irão, então, realizar a tarefa de transportar o pólen até outras plantas, ou depositar as sementes em outros locais. Dessa forma, é possível que a fecundação cruzada – fecundação entre indivíduos diferentes - ocorra frequentemente.

Assim, as plantas com flores transcenderam a sua condição de organismo séssil e se tornaram tão móveis quanto os animais. Isso tudo só foi possível graças a uma infinidade de substâncias químicas que surgiram durante todo o processo evolutivo, e que permitiram a atração dos animais às estruturas reprodutivas das plantas em troca de uma valiosa moeda: o néctar. Sua composição é rica em açúcares, o que o torna de alto valor energético; além disso, muitas vezes estão acompanhados de aminoácidos, vitaminas, antioxidantes e toxinas, capazes de repelir os oportunistas indesejáveis.

Várias mudanças evolutivas importantes se seguiram. Por exemplo, plantas que produziam tipos especiais de alimentos para os visitantes poderiam ter vantagens seletivas. Nesse sentido, o desenvolvimento de nectários florais foi uma grande vantagem, fornecendo um arsenal de odor, sabor e energia interessante para os visitantes. As abelhas, o grupo de visitantes mais importante das flores, são responsáveis pela polinização de mais espécies de plantas do que qualquer outro grupo de animais. Elas se alimentam de néctar e coletam pólen para alimentar as larvas. Possuem partes bucais, pelos e outras estruturas do corpo adaptadas à coleta e ao transporte de pólen e néctar (Figura ).

 

Abelha melífera e borboleta atraídas para as flores em busca de néctar
e pólen. A cor púrpura exemplifica a influência direta na atração


As flores polinizadas por animais que são capazes de enxergar cor
apresentam, geralmente, coloração intensa. Assim, é comum que as flores
polinizadas por abelhas sejam azuis ou amarelas, enquanto que as polinizadas por aves sejam vermelhas.

São os pigmentos que dão cor às flores. Muitas flores vermelhas,
alaranjadas ou amarelas devem suas cores à presença de pigmentos
carotenoides, compostos do grupo dos terpenoides que se encontram nos
plastídeos. No entanto, os mais importantes pigmentos são os flavonoides, compostos fenólicos abundantes em flores. Já as antocianinas são os principais determinantes da coloração vermelha ao azul. Elas são compostos fenólicos que,devido a sua característica polar, se solubilizam em água e interagem com íons e outros constituintes, o que favorece uma vasta gama de cores nas flores.

Um mesmo pigmento dessa natureza pode apresentar cores diferentes,
dependendo do pH no qual ele se encontra. A cianidina (Figura 24), um composto dessa classe, é vermelha em solução ácida, violeta em neutra e azul em solução alcalina (básica). Em algumas plantas, as flores mudam de cor após a polinização devido à produção de grandes quantidades de antocianinas, ficando menos distintas para os insetos.

Corante natural presente nas flores e usado comercialmente,
a cianidina

Os flavonóis, outro grupo dos polifenólicos, são comumente encontrados
em folhas e flores. Alguns apresentam pouca cor, mas podem contribuir para os tons de marfim e branco encontrados em certas flores. A quercetina, um flavonol amplamente distribuído, é encontrada na flor do trevo, por exem
plo.



Fonte:Emery ,et al. A Química na Natureza, 2010.

Nenhum comentário: