01 julho 2013

A química que repele

 


 Na natureza, todos os organismos investem sua energia em uma incessante luta pela sobrevivência tentando encontrar alimento, procriar e evitar ser predado. 


  A maioria dos organismos não sobrevive até chegar à maturidade sexual e muitos adultos não sobrevivem o suficiente para produzir proles. A predação é a maior causa de mortalidade em populações naturais e pode ocorrer em qualquer fase da vida.
 
  Toda característica de um organismo que aumente o gasto de energia de um consumidor para descobri-lo, ou  manipulá-lo, será uma defesa se o
consumidor o atacar menos. Muitos animais evitam ser predados fugindo de seus predadores. É fácil pensar em uma capivara fugindo de uma onça ou uma mosca voando para longe de um sapo. Mas e aqueles organismos que não conseguem se locomover? Aqueles que vivem fixos - organismos sésseis - como as plantas?

A produção de algumas substâncias pelas plantas diminui o ataque por
herbívoros predadores.  Por exemplo, os bugios, também conhecidos como
barbados (Alouatta spp.), preferem folhas jovens e evitam folhas maduras com maior quantidade de tanino. Os taninos, que são compostos polifenólicos, alteram a palatabilidade e digestibilidade de muitos herbívoros, tornando a planta ingerida desagradável ao gosto do animal (Figura abaixo).

Larvas e insetos adultos alimentando-se de plantas que contêm
produtos naturais e reduzem sua predação.


Outros compostos, como os terpenos, podem agir de forma diversa, como o limoneno, um importante repelente encontrado nas árvores de Pinus. Dessa forma, besouros evitam pousar nessas espécies de plantas e predá-las. A capacidade repelente de terpenos menores (monoterpenos, por exemplo) é bastante eficaz por serem muito voláteis.

Esse conjunto de defesas químicas apresenta uma versatilidade fascinante que auxilia não somente no combate aos predadores, como também evita infecções por vírus, bactérias ou fungos, ou mesmo a competição com outras plantas. No último caso, temos o exemplo que ocorre no chaparral, vegetação típica encontrada na Califórnia e no Chile (entre outras localidades com clima semelhante). As espécies Salvia lucophylla e a Artemisia callifornica são dois arbustos importantes nesse tipo de vegetação e, no verão, liberam cânfora e cineol para o ambiente (Figura abaixo). 

Quando suas partes aéreas caem no solo e lá ficam depositadas, essas substâncias impedem que outras plantas cresçam na primavera seguinte, evitando um aumento diversificado de populações de outras espécies. É interessante notar que essas substâncias são voláteis: terpenos de baixa massa molecular e que, com o aumento da temperatura no verão, são liberados mais facilmente. No inverno, com baixas temperaturas, esse processo não tende a ocorrer.


Exemplo de monoterpenos capazes de impedir que outras espécies de
plantas se desenvolvam no chaparral.

Os animais têm mais opções de defesa do que os vegetais, mas também
fazem uso de substâncias químicas neste processo. Secreções defensivas
contendo ácido sulfúrico, no pH 1 ou 2, ocorrem em alguns grupos de gastrópodes marinhos.



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